segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Avatar (2009)

Hoje é meu aniversário (14/08).
Diante do cansaço dos últimos dias, era quase meia-noite e me permiti assistir a um filme.
Na decisão, a curiosidade deu o mote e decidi por Avatar, de James Cameron.
Ao meu ver, a grande referência do filme é a história da colonização do Continente Americano, no período em que Hegel chamou de Idade Moderna, mesclada a do Continente Africano, posteriormente, ao longo do século XIX. Em relação à América, o signo principal é a floresta Amazônica, com sua pujança de umidade, cor e diversidade. Quanto à África, as referências podem ser percebidas pela constituição do figurino e de certa performance dos grandes personagens azuis. A despeito da cor, dos caracteres físicos e do tamanho incomuns, em muitas cenas, o que eu via era as representações iconográficas dos povos africanos presentes nos quadrinhos do Fantasma, por exemplo, ou no cinema chinfrim hollywodiano, como os ‘black faces”. Os rituais religiosos, principalmente no momento em que todos estão orando/rezando para a Árvore Sagrada (presente em diferentes mitologias), antes do confronto principal com os invasores, lembraram-me as formas como os rituais do candoblé são recriado na imaginação dominante, no senso comum.
Depois disto, a estrutura do enredo é, por demais, simplória. É tão careta quanto os roteiros daquilo que comumente chamamos de “Filme Sessão da Tarde” (Referência a um antigo programa semanal de exibição de filmes que a Globo, filha da Ditadura, apresentava. Nem sei se ainda existe, pois há mto tempo não assisto televisão e, quando fico em casa durante a semana, há infinitas coisas mais interessantes a serem feitas que desperdiçar-me diante de coisas tão inúteis). A consequência imediata de referencial tão batido e repetido é a prevesibilidade da história. A sensação dominante é “já vi isto antes”.
Uma amiga chamou a atenção para as referências ao mundo digital, a cultura dominante para a maior parte do público a que se destina o Avatar: as conexões USB. Torna-se hilário pensar nas conexões dos nativos de Avatar como nossas conexões via USB.
Não posso esquecer de dizer também que a existência dos dois mundos, o real (dos humanos) e o emulado (pelos humanos), por meio dos avatares, lembra mto a trilogia Matrix. No filme de James Cameron, o recurso cinematográfico para distinguir tais mundos ficou a cargo da fotografia, por meio da utilização da cor, e da tecnologia, posto que o mundo do Avatar é, antes de qualquer coisa, resultado digital, ou seja, da realidade virtual, do efeito especial em oposição ao mundo dos humanos que, mesmo com a utilização da tecnologia, ainda é majoritariamente analógico. A emulação por meio do avatar é só mais um recurso óbvio do filme. Preciso dizer que a obviedade não é problemática em si, posto que a originalidade é mais algo utópico que materialmente possível, historicamente. O problema do filme reside em ser óbvio de forma gratuita, pouco inteligente e preguiçosa.
Ademais, o professor Jean-Marie Lambert escreveu em artigo publicado no jornal O Popular, de 9 de maio de 2010: “O homem feito de matéria estelar a compartilhar o mundo em pé de igualdade com as plantas é imagem que tomou conta de sua [James Cameron] ecocêntrica. Porém, árvore é incapaz de reflexão ética ou opção comportamental… o que recoloca automaticamente o filho de Eva no centro como o único gestor potencial do sistema”. A despeito do materialismo de Jean-Marie, a filosofia ecocêntrica de Avatar somente esvazia a mística e o misticismo da Natureza.
Sem mais, eu prefiro o mundo analógico, contraditório, mau do que a chatice politicamente-correta e “feliz” do mundo do Avatar.
Viva a contradição!