Olá.
Se fosse possível, gostaria de desejar um bom dia,
boa tarde ou boa noite a quem estiver lendo essas linhas. Mas a indignação
frente à violência da Polícia Militar de Goiás, ontem, na Cidade de Goiás, no
trato com os manifestantes da UEG, imprimem a esses cumprimentos polidos
sensações pouco apropriadas ao momento que vivemos.
Estou como professor na Cidade de Goiás, desde o
início do ano letivo de 2013, e posso dizer que aquela comunidade acadêmica
possui vários professores e alunos que estão lutando por uma UEG com qualidade
social. O professor Robson de Moraes e o prof. (e também religioso dominicano)
Frei Paulo Sérgio Catanhede (que foram agredidos e presos, ontem) são pessoas
íntegras e engajadas, em princípios e em ação, para com a UEG e várias outras
causas sociais.
Igualmente os alunos que foram violentados. Esses
são parceiros, solícitos, disponíveis e igualmente engajados. Vários deles são
bolsistas (de iniciação científica, de PIBID etc) o que nos indica,
minimamente, o seu mérito acadêmico e seu compromisso com a sua formação
profissional e com a instituição a que pertencem.
Pois ontem, dia 02/07, em decorrência de uma
manifestação na abertura do FICA (Festival Internacional de Cinema Ambiental),
essas pessoas foram espancadas, agredidas, humilhadas em seus direitos e
dignidade humana! Tiveram sua integridade física desrespeitada! Um aluno teve
que ser socorrido no hospital! Tiveram seu direito de livre manifestação ignorado
(pois resistiram à ordem da polícia para se dispersarem). E não portavam armas
(como a própria polícia), pedras ou coquetel molotov, por exemplo. Mas sim,
estavam com indignação suficiente para se manifestar publicamente.
Certamente, portavam algo mais perigoso que armas:
a inteligência e a coragem de fazer algo pela transformação social, começando
por questões pontuais para produzir a melhoria da unidade de Goiás e para todas
as demais unidades da Universidade Estadual de Goiás. INCLUSIVE AQUELAS unidades
QUE NÃO ADERIRAM À MOBILIZAÇÃO (mas que receberão todos os benefícios
conquistados na/pela luta).
Como professor de história, formador de outros
professores, não aceito que nossos colegas de trabalho sejam tratados dessa
forma. Muito menos nossos alunos. São estudantes, jovens e não podem ter sua
vida e sua esperança de futuro tratadas dessa forma.
Já suportamos a prisão do aluno em Anápolis (até
onde sei, devido a palavras de ordem que foram consideradas “desacato ao
governador”); a prisão dos manifestantes em Goiânia (no dia 20/06, que até onde
fui informado pela comissão de direitos humanos que acompanhou os processos,
portavam pedras e coquetel molotov. Não quero entrar no mérito da questão da
verdade dessas informações ou da legitimidade desses atos, mas, os trago aqui
para contrastar com o que aconteceu ontem na Cidade de Goiás). Os colegas
estavam em grupo segurando cartazes e reivindicando o que nos é de direito.
Pacificamente. É bom frisar.
DIANTE DISSO, NÃO PODEMOS ACEITAR QUE NOSSOS
DIREITOS BÁSICOS de integridade física e de livre manifestação SEJAM
DESRESPEITADOS pela POLÍCIA MILITAR DE GOIÁS, pelo GOVERNO DO ESTADO (na pessoa
do governador eleito e de sua equipe) e nem que isso seja IGNORADO PELA
IMPRENSA GOIANA (que não se interessou/noticiou devidamente tal acontecimento).
Por isso, venho a público divulgar essas
informações e pedir o APOIO de todos os que lerem essa carta.
Conclamo a todos os colegas das unidades da UEG que
ainda não aderiram à greve (apelo para seus valores corporativistas,
religiosos, humanitários e o que mais preciso for) para que paralisem as
atividades até que o governador se posicione positiva e definitivamente a favor
da comunidade da UEG, PRINCIPALMENTE NA DEFESA DA DIGNIDADE DE NOSSOS
ESTUDANTES garantindo moradia e alimentação estudantil.
É bom lembrar que estamos em greve, há mais de dois
meses, porque não tivemos as reivindicações de casa de estudante e de condições
de alimentação para nossos alunos devidamente tratadas por parte do governo, em
forma de garantias documentadas no trato desse problema.
Pessoalmente, já estava desacreditado dessa greve.
Achei que já se tinha dado o que foi possível acontecer. Pensava que os
colegas, principalmente esses que estão à frente da organização da mobilização,
mereciam descansar da batalha constante que é o estado de greve. Enfim, que
podíamos recuar e nos prepara para enfrentamentos futuros.
Diante do que aconteceu ontem, contudo, vejo que
estava errado. Precisamos ensinar a nós mesmos como devemos ser tratados pela
Polícia e pelos administradores da coisa pública. Quero que toda essa repulsa e
revolta que sinto agora dentro de mim, desencadeadas pela atitude que a polícia
militar desse estado (e os demais responsáveis por ela) contra a dignidade de
nossos colegas alunos e professores de Goiás, seja o alimento que faltava para
a organização social.
Que a dor física e moral sentida por esses
companheiros, seja nosso alimento para continuar acreditando na causa dessa
greve bem como em toda forma de organização social.
Enquanto escrevo essas linhas não consigo conter a
emoção, nem meu pensamento que está junto desses colegas, professores e jovens
alunos, nos quais a individualidade reinante em nosso tempo bate em suas
caras e corpos. Minhas mãos estão geladas, como sempre estiveram nos momentos
mais importantes de minha vida.
A desgraça da História serve para nos mostrar que,
enquanto população e enquanto indivíduo, não podemos nos calar diante da
violência de Estado e de seus fascismos. Os políticos são SERVIDORES da
população! O seu poder reside na população! Isso deve ficar bem claro para o
bem geral.
A violência contra os professores e estudantes
ontem na Cidade de Goiás deve ser transformada em alimento para quem já estava
à frente da mobilização, para os desanimados, para os colegas que ainda não
aderiram à greve (no sentido de os fazer refletir sobre a necessidade, a
importância e o poder da mobilização social, principalmente, porque os momentos
de reivindicação são uma síntese a nos mostrar como o Estado nos trata), bem como
para os demais funcionários da administração central da UEG.
O que a reitoria da UEG fará em relação à forma
violenta como a Polícia Militar, representando os interesses do Governo do
Estado de Goiás, trataram nossos estudantes? Afinal, estamos na rua, ainda,
para ter casa e restaurante universitário, para nossos alunos que são, em sua
maioria, trabalhadores. E por esses motivos, dentre outras reivindicações,
ontem eles sofreram a violência policial na Cidade de Goiás.
Esse acontecido é agora um fato político que deve
favorecer a reivindicação pela moradia e alimentação estudantil em Goiás.
Como membro da comunidade da UEG, peço o apoio de
quem estiver lendo esse texto, seja por meio da produção de notas e moções de
apoio (pessoais ou institucionais) à nossa greve, bem como na divulgação desses
fatos nas redes sociais. MAS, PRINCIPALMENTE, SE FAZENDO PRESENTE NA
MANIFESTAÇÃO DE AMANHÃ.
SOMOS
OBRIGADOS MORAL-CÍVICA-CIDADÃ E HUMANAMENTE, A NOS FAZER PRESENTE
Dia:
04/07 (amanhã, quinta-feira)
Local:
Av. Independência esquina c/ Av. Goiás, em Goiânia.
Horário:
as 14h
Caminharemos em procissão até o Centro
Administrativo do Estado (Palácio Pedro Ludovido Teixeira) na praça Cívica
#VemPraRua #UEGgreveOficial
Peço o apoio de tod@s na divulgação dessas informações e esperamos sua presença: amig@s, colegas, a população em geral; todo aquele que é a favor de uma sociedade com mais condições de igualdade de oportunidade para todos (porque é isso que a educação pública deveria garantir).
Não é certo, cada pessoa que somos, aceitar esse
tipo de tratamento por parte da Polícia Militar de Goiás, nem aceitar
passivamente os demais valores que orientam o governo do estado na forma de
administrar o bem público. Mais que nunca, é hora de defender o respeito à
dignidade humana.
Nosso corpo é nosso poder!
Até amanhã!
Euzebio Fernandes de Carvalho
Professor
de Didáticas, Práticas e Estágios em História
Universidade
Estadual de Goiás
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