terça-feira, 23 de julho de 2013

o poder de representação da linguagem audiovisual



Ola! Como parte das atividades do curso Câmera Cotidiana, apresento a seguir o fichamento do capítulo “Realidade” do programa “Estranho Planeta dos Seres Audiovisuais

O episódio tematiza a busca pela realidade: as imagens seriam as coisas que elas representam? será o problema perseguido em todo o episódio. Parte-se do pressuposto que a realidade é uma dimensão fundamental para se atingir a verdade.

O filósofo L. F. Pondé assevera que a verdade é aquilo que está corretamente adequada à realidade, a qual existiria além do controle pessoal (quanto mais a realidade está em meu controle, mais risco corro daquilo não ser realidade). Para o filósofo, podemos entrar em contato com a realidade por meio de recursos ficcionais, o que não significa que esses mesmos recursos não sirva à relação entre ser humano e realidade: “a matéria estética do audiovisual é muito mais importante do que, na realidade, a simples preocupação com o mundo na frente dele”. Aqui temos uma importante reflexão pois ela nos possibilita ultrapassar a tradicional distinção entre realidade e ficção, compreensão muito forte em nossa sociedade.

Se há um gênero audiovisual que se define pela relação direta com a realidade é o documentário. Contudo, é preciso pensar que o documentário sempre “documenta” alguma realidade e por isso não pode ser tomado como documento absoluto da verdade. Afinal, cada filme prevê uma manipulação. Nesse sentido, Robert Flaherty (diretor de Nanook: o esquimó. O primeiro longa documentário da história), afirma que “Cineastas devem distorcer a realidade para capturar seu verdadeiro espírito”. Os recursos específicos aos audiovisuais que mostram tal manipulação são: a edição, a trilha sonora, os enquadramentos, a presença do entrevistador, o voice over etc. Por tudo isso, mesmo no documentário, a verdade deve ser vista como relativa, pois revela uma sempre uma perspectiva.

Eduardo Coutinho defende que existem vários níveis de registro da realidade. O nível mais primário da realidade seria o registro feito por amadores, que se multiplicam aos milhares atualmente. Um nível mais complexo que as imagens instantâneas feita por videoamadores, seria o jornalismo. Esse, em sua pretensão de ser o registro da realidade, seria interessado na informação devidamente verificada. Contudo, são ambos interpretações, tanto o jornalismo quanto os vídeos ordinários. Nesse sentido, E. Coutinho inclui também o documentário que gradaria do jornalismo ao abstrato. Para o cineasta, a verdade reside no momento em que a pessoa fala com convicção e com força. Para ele, isso nem precisa ser verificado. O que importa é o sentido impresso naquele momento, por aquela pessoa, no que diz.

Outro documentarista, Caito Ortiz, diz que a capacidade de insenção, se desejada, é a coisa mais difícil em um documentário. “fulano expressa mal mas está coberto de razão. Beltrano fala bem, mas é um canalha”, o que fazer? A imagem, de cára, se compra que é de verdade”, afirma Ortiz. A foto em si não é verdadeira nem falsa, nós é que a sobrevalorizamos com tal. O audiovisual tornou-se, culturalmente, a partir do início do século XX, aceito, passivamente, como verdadeiro. A gente assiste e acredita. Verdade, realidade, ficção, para Ortiz é tudo parte do mesmo mundo: “Nós temos uma fixação na história, na necessidade da ficção”.

Porque lidam com a realidade, tanto o documentário quanto o jornalismo são perigosos (e denotam assim seu poder de representação e de construção de “realidade”).

Não podemos esquecer que com o advento do audiovisual, não só viamos as notícias, mas a viamos acontecendo diante de nossos olhos. Por conta desse processo, cada vez mais precisamos “ver para crer”. Tal fenômeno está em curso entre nós.

Para o jornalista Caco Barcellos, “a realidade é tão fantástica que não é preciso ficcioná-la. A verdade torna-se sempre relativa em função do olhar que é lançado sobre um acontecimento”. A tendência é acreditar que tudo é verdade, mesmo a ficção. No geral, culturalmente, não desconfiamos da imagem.

Contudo, é preciso saber que a realidade somente pode ser alcançada mediante o recuso de sua representação. Afinal, não somos imagens: nós somos.

A realidade menos objetiva que existirira seria a realidade pessoal, “tosca e pouquissimo interessante”, se diz em certa altura do programa. Talvez por isso, a necessidade de ficcionalizar o real para que ele nos pareça efetivamente mais interessante. Aqui, voltamos à “necessidade de narração” que nos constitui enquanto pessoa cultural. A Narração, então, seria um universal antropológico, uma estrutura presente e característica da humanidade. Com a desvalorização do narrador (entre nós do velho pai ou do avô que nos contaria histórias de tempos não vividos) passamos a saciar nosso desejo de narrativa nos romances literários, nas revistas, na tv, no cinema, na internet. Em certa medida, o desejo de narração embrenha-se na curiosidade e na prática do fuxico e do falatório. Afinal, qualquer coisa só se torna coisa quando narrada, em palavras, imagens, sons... não foi com as imagens rupestres que damos os nossos primeiros passos rumos à cultura?



Ficha técnica do programa:
Produção:Matias Mariani (executiva), Cao Hamburger (executiva), Marcelo Monteiro (dir. produção)
Roteiro e Direção Paulinho Caruso & Teo Poppovic
Edição Marcelo Junqueira, Andre Albuquerque, Felipe Hassum
Fotografia Anderson Capuano
Elenco Maria Laura Nogueira, Renata Gaspar, Fabio Marcoff, Ricardo "Murphy" Brown, Loco Sosa, Jesus Sanchez,
Narração Teo Poppovic
Música Monga Records (acervo) & Sound Design Produções (original)
Finalização de Áudio Pélico & Mattoli @ Sound Design Produções
Arte Maíra Mesquita e Marina Lodi
Figurino Yael Amazonas
Realização Canal Futura, Primo Filmes e Caos Produções

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