Ola! Como parte das atividades do curso Câmera Cotidiana, apresento a seguir o fichamento do capítulo “Realidade”
do programa “Estranho Planeta dos Seres Audiovisuais”
O episódio
tematiza a busca pela realidade: as imagens
seriam as coisas que elas representam? será o problema perseguido em todo o
episódio. Parte-se do pressuposto que a realidade é uma dimensão fundamental
para se atingir a verdade.
O filósofo L. F.
Pondé assevera que a verdade é aquilo que está corretamente adequada à realidade, a qual existiria além do controle
pessoal (quanto mais a realidade está em meu controle, mais risco corro daquilo
não ser realidade). Para o filósofo, podemos entrar em contato com a realidade
por meio de recursos ficcionais, o que não significa que esses mesmos recursos não
sirva à relação entre ser humano e realidade: “a matéria estética do
audiovisual é muito mais importante do que, na realidade, a simples preocupação
com o mundo na frente dele”. Aqui temos uma importante reflexão pois ela nos
possibilita ultrapassar a tradicional distinção entre realidade e ficção, compreensão
muito forte em nossa sociedade.
Se há um gênero audiovisual
que se define pela relação direta com a realidade é o documentário. Contudo, é
preciso pensar que o documentário sempre “documenta” alguma realidade e por
isso não pode ser tomado como documento absoluto da verdade. Afinal, cada filme
prevê uma manipulação. Nesse sentido, Robert Flaherty (diretor de Nanook: o esquimó. O primeiro longa
documentário da história), afirma que “Cineastas devem distorcer a realidade
para capturar seu verdadeiro espírito”. Os recursos específicos aos audiovisuais
que mostram tal manipulação são: a edição, a trilha sonora, os enquadramentos,
a presença do entrevistador, o voice over
etc. Por tudo isso, mesmo no documentário, a verdade deve ser vista como relativa,
pois revela uma sempre uma perspectiva.
Eduardo Coutinho
defende que existem vários níveis de registro da realidade. O nível mais
primário da realidade seria o registro feito por amadores, que se multiplicam
aos milhares atualmente. Um nível mais complexo que as imagens instantâneas
feita por videoamadores, seria o jornalismo. Esse, em sua pretensão de ser o
registro da realidade, seria interessado na informação devidamente verificada. Contudo,
são ambos interpretações, tanto o jornalismo quanto os vídeos ordinários. Nesse
sentido, E. Coutinho inclui também o documentário que gradaria do jornalismo ao
abstrato. Para o cineasta, a verdade reside no momento em que a pessoa fala com convicção e com força. Para ele, isso nem precisa ser
verificado. O que importa é o sentido impresso naquele momento, por aquela
pessoa, no que diz.
Outro
documentarista, Caito Ortiz, diz que a capacidade de insenção, se desejada, é a
coisa mais difícil em um documentário. “fulano expressa mal mas está coberto de
razão. Beltrano fala bem, mas é um canalha”, o que fazer? A imagem, de cára, se
compra que é de verdade”, afirma Ortiz. A foto em si não é verdadeira nem
falsa, nós é que a sobrevalorizamos com tal. O audiovisual tornou-se,
culturalmente, a partir do início do século XX, aceito, passivamente, como
verdadeiro. A gente assiste e acredita. Verdade, realidade, ficção, para Ortiz é
tudo parte do mesmo mundo: “Nós temos uma fixação na história, na necessidade
da ficção”.
Porque lidam com
a realidade, tanto o documentário quanto o jornalismo são perigosos (e denotam assim
seu poder de representação e de construção de “realidade”).
Não podemos
esquecer que com o advento do audiovisual, não só viamos as notícias, mas a
viamos acontecendo diante de nossos olhos. Por conta desse processo, cada vez
mais precisamos “ver para crer”. Tal fenômeno está em curso entre nós.
Para o
jornalista Caco Barcellos, “a realidade é tão fantástica que não é preciso
ficcioná-la. A verdade torna-se sempre relativa em função do olhar que é
lançado sobre um acontecimento”. A tendência é acreditar que tudo é verdade,
mesmo a ficção. No geral, culturalmente, não desconfiamos da imagem.
Contudo, é
preciso saber que a realidade somente pode ser alcançada mediante o recuso de
sua representação. Afinal, não somos imagens: nós somos.
A realidade menos
objetiva que existirira seria a realidade pessoal, “tosca e pouquissimo
interessante”, se diz em certa altura do programa. Talvez por isso, a
necessidade de ficcionalizar o real para que ele nos pareça efetivamente mais interessante.
Aqui, voltamos à “necessidade de narração” que nos constitui enquanto pessoa
cultural. A Narração, então, seria um universal antropológico, uma estrutura
presente e característica da humanidade. Com a desvalorização do narrador
(entre nós do velho pai ou do avô que nos contaria histórias de tempos não
vividos) passamos a saciar nosso desejo de narrativa nos romances literários,
nas revistas, na tv, no cinema, na internet. Em certa medida, o desejo de
narração embrenha-se na curiosidade e na prática do fuxico e do falatório.
Afinal, qualquer coisa só se torna coisa quando narrada, em palavras, imagens,
sons... não foi com as imagens rupestres que damos os nossos primeiros passos
rumos à cultura?
Ficha técnica do programa:
Produção: | Matias Mariani (executiva), Cao Hamburger (executiva), Marcelo Monteiro (dir. produção) |
Roteiro e Direção | Paulinho Caruso & Teo Poppovic |
Edição | Marcelo Junqueira, Andre Albuquerque, Felipe Hassum |
Fotografia | Anderson Capuano |
Elenco | Maria Laura Nogueira, Renata Gaspar, Fabio Marcoff, Ricardo "Murphy" Brown, Loco Sosa, Jesus Sanchez, |
Narração | Teo Poppovic |
Música | Monga Records (acervo) & Sound Design Produções (original) |
Finalização de Áudio | Pélico & Mattoli @ Sound Design Produções |
Arte | Maíra Mesquita e Marina Lodi |
Figurino | Yael Amazonas |
Realização | Canal Futura, Primo Filmes e Caos Produções |
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